domingo, 26 de agosto de 2007

MÚSICAS DE CULTO


Deveria ter aí uns 4 anos quando a mina mãe me pôs a aprender piano. Era minha professora a saudosa Sra. D. Arminda, irmã do Sr. Albano da Casa Albano. Creio que já vos falei disto há uns tempos e portanto não vou perder tempo a contar-vos a desgraça que aqueles momentos de estudo e aprendizagem eram para mim. Muitos anos depois assumo que não tinha jeito nenhum para o instrumento. Acho que gostar, gostava. E gosto ainda, e muito, mas tocado por quem o sabe fazer correctamente. Isto não quer dizer que a música me passasse ao lado. Antes pelo contrário. Nasci em casa dos meus padrinhos (tios do nosso querido conterrâneo Dr. Lobão) na Av. da Boavista onde abundavam teenagers da época. Passava tanto tempo naquela casa (o meu pai levava-me de manhã quando ia ao Porto buscar artigos para as suas lojas e ia-me buscar com a minha mãe á noite, já depois de jantar) que ainda hoje sonho com ela, se bem que ela tivesse sido demolida há cerca de 50 anos. Um dos prazeres mais partilhados por toda a gente da Boavista, sobretudo pelos mais novos, era a música. Passavam-se as tardes a ouvir rádio, daqueles belíssimos aparelhos, mas que faziam uma barulheira enorme antes de arrancarem, mas sobretudo a velha grafonola, ainda de agulhas de agulhas e manivela. Decorriam os anos 40. A guerra acabara e ainda andavam no ar as músicas do Glenn Miller, do Gershwin, do Cole Porter. Cresci ao som daquelas harmonias que eram muitas vezes dançadas em dias festivos. Ainda hoje são as minhas favoritas em qualquer baile. E ouço-os ao longo do dia, guardadas que as tenho no computador e no Ipod.
Tive a sorte de ser jovem nos anos 50/60, que devem ter sido dos mais ricos em produções de músicas ligeiras, aquelas que alimentaram os bailes de garagem, salões dos bombeiros, queimas de fitas e sobretudo namoros. Quem dessa geração não se lembra da força com que a música italiana entrou nos nossos hábitos? E o sucesso da francesa? E a seguir tivemos os Beatles…. E depois os Stones, etc, etc. etc. Por volta dos meus 15 anos ganhei o primeiro gira-discos. Corri logo a comprar aquele que foi o meu disco nº1, em Vynil. Era de 45 rotações e de música do Aznavour. Foi o meu primeiro cantor de culto francês a que rapidamente juntei o Bécaud e a Piaf. Dos americanos fiz uma boa colecção de discos do Nat King Cole, do Frank Sinatra, do Tony Bennett… Será difícil aqui registar todos. Ainda hoje passo os dias com música de fundo, de blues a canções românticas, bandas sonoras de filmes, como a das Pontes de Madison County, Filadélfia, e muita, mesmo muita música brasileira. Tenho pilhas de Cds e discos de Vinyl arrumados e parados por avaria na borracha do prato, mas que um dia, muito em breve será reposto em funcionamento. E o mais interessante de tudo isto é que é um prazer partilhado pela família., do mais novo aos mais velhos. Há um ano as netas fizeram uma festa de anos especial ao avô. A música de fundo que tivemos foi de primeira escolha e, para meu espanto, da responsabilidade delas. Foi uma agradável surpresa verificar o cuidado com que fizeram a selecção que foi do agrado de todos, sobretudo do homenageado. Considerando que ambas são adolescentes revelaram uma apurada sensibilidade musical.
De todas as músicas que tenho gravado há algumas que tocam mais. São as minhas canções de culto. A lista é enorme. Ouço-as em função do dia e da disposição. E até já escolhi as que quero que me toquem quando chegar o momento da minha partida. Estão gravadas e prontas. Neste momento ando virada para a música brasileira. Há valores tremendos naquela sonoridade. De Chico a Caetano, de Gal a Ana Carolina filha da saudosa Elis. Mas de culto, mesmo de culto, quase de ouvir de joelhos, é Betânia, em qualquer canção. Já a vi várias vezes, mas ao ouvi-la, sozinha em casa, sinto-me tão arrepiada como quando a tenho em palco. Querem experimentar? Ouçam-na quando ela mistura a sua música com poesia de Pessoa. Já tem, uns anos, mas vale sempre a pena… porque a nossa alma fica bem mais quente.

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