DO AMOR
Do amor fica sempre uma canção.
Fica um sinal na pele. Fica um sinal.
Do amor fica um sim e fica um não.
Fica o sol e a sombra. Fica o sal.
Do amor fica sempre um coração
a pulsar na memória o tempo breve
de sua chama a arder um só verão.
Do amor fica amor que se não teve.
Fica uma réstea e um rasto de navio.
Do amor o que fica é um passar
que do amor como o tempo é ser um rio
como um rio fluir e assim ficar.
E por isso de amor este arrepio
de se morrer (de se viver) de amar.
Manuel Alegre, in Coisa Amar (Coisas do Mar)
(Gaivota da Beira Tejo)
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