À MEMÓRIA DO MEU AMIGO LEONARDO QUE HOJE PARTIU SEM TER TEMPO DE SE DESPEDIR DE MIM
Há-de vir um Natal
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
David Mourão-Ferreira
Até sempre, Leonardo
6 Comentários:
A Idade de Ser Feliz
Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-las
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo, nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar
e recriar a vida,
a nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e entregar-se a todos os amores
sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem
em que todo o desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda a disposição
de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO,
e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa.
Todas as gaivotas são lembrança
cada navio que chega
Tráz meus sonhos de criança
Tráz meus sonhos de criança
que eu nunca chego aviver
Os sonhos morrem na praia
Onde as gaivotas vão morrer
Os sonhos morrem na praia
morre na praia a esperança
todas as gaivotas são lembrança
As gaivotas gemem quando de repente
Atiradas contra a luz como pedradas
Sobem e morrem no céu verticalmente
E o seu corpo é tomado nos espaços
Da bruma na manhã fria
Da manhã sem alegria
Só a gaivota nasceu
Como rompendo da espuma
Da bruma no mar do céu
(arrumando papéis encontrei)
g.m
Este texto que o(a) anónimo(a) escreveu já o tenho no meu computador há muitos, muitos anos. Mandaram-mo como sendo da autoria de Mário Quintana. Acho-o lindo mas ñunca consegui confirmar a sua autoria. Ajudam-me?
bjs
Graça
O autor está lá escrito: é o David Mourão Ferreira. Eu ouvi esta poesia pela primeira vez dita por ele próprio poucos anos antes da sua morte e fiquei fã. E dos textos que conheço a que reconheço maior tomada de consciênca da Realidade.
Um beijo
Com isto até me esqueci de te agradecer os parabéns. Naquele dia só fiz jantar porque as filhas e os netos, embora o conhecessem, não sentiram a perda como eu. Por isso até me sabe bem agora recebar cumprimentos. Consola-me. Tanto mais que agora foi a vez da partida do pai do nosso Presidente que conheci sempre muito bem e que era uma das várias pessoais cá da terra que ainda me tratavam pelo meu diminuitivo. Um abraço
Este poema - do poeta das gaivotas - causa-nos um certo arrepio... faz-nos pensar naquilo que todos sabemos: que há-de vir um Natal que será o primeiro... onde não estaremos, mas em que a nossa presença será sentida...
g. do sul
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