MAIS UMA VEZ, A SAUDADE DE VILAR DO PINHEIRO - O SÓTÃO
O texto que se segue foi escrito por uma das meninas que tiveram a felicidade de passar férias na Casa de Vilar do Pinheiro:
"(...) nunca mudou o gosto pelas férias em Vilar do Pinheiro. Começaram as paixonetas da adolescência. E aí as idas ao mirante já não eram o que tinham sido! Se as tias não fossem até calhava bem!... As que não tinham namorado gostavam de ir até lá ver os meninos a passarem em bons carros (na estrada porto - Vila do Conde) e, se fossem de sport, ainda melhor!
Ao grupo das primas veio juntar-se a Isabel Carvalho. Mais tarde começou a vir a Xinha, só passar alguns dias. Houve um ano que até a Dina, uma minha prima, veio. Já não havia espaço que chegasse para dormirmos todas e assim nasceu, no sótão, o quarto das meninas. Divãs com colchas de escocês azul escuro, verde e amarelo, em flanela, que mais pareciam mantas de fazenda inglesa, à séria! Uma "coiffeuse" em serapiheira amarela, com o tampo em escocês, um banco e um espelho forrados do mesmo, que ficaram uma autêntica beleza! Para tornarmos mais confortável o ambiente, mandámos tingir de amarelo, um cobertor de papa, que lá havia e que colocámos em frente da "coiffeuse".
Transformámos o sótão num quarto digno de revista de decoração, ao nível do "Querido mudei a casa"! Fizemos dele o quarto que nenhuma de nós podia ter em casa:
Colocávamos tudo o que queríamos nas paredes, fumávamos (só algumas), deitávamo-nos em cima das camas onde devorávamos revistas de "Amor a metro" (as fotonovelas), trazidas na maioria pela Isabel.
Na altura , o JP Grasset, um jovem pintor, apaixonadíssimo pela Xanda, quis contribuir com uma mais valia para o nosso sótão e pintou um simples armário de pinho transformando-o numa obra de arte. Mais tarde demos ao nosso sótão o nome de "Retiro das Traves" que foi gravado a fogo numa tábua de madeira . Lá quase só se ouvia fado marialva. O Vicente da Câmara, a Maria Teresa de Noronha e o D. Hermano da Câmara, o nosso ídolo pelo "Fado da despedida" composto antes da sua ida para o convento.
Quantos sonhos vividos naquele sótão! Quantas desilusões e quantas lágrimas choradas por desgostos de amor! Quantas confidências até altas horas da noite! Mas, também, quantos projectos ali feitos mas que não se tornaram realidade! Se aquelas paredes falassem muito teriam para contar!
Aprendi, muito mais tarde que, na casa de cada pessoa, a zona do sótão, representa o espaço do sonho, da fantasia, da aventura, do mistério, das recordações. Aquele desempenhou bem as suas funções. Hoje, revivendo o passado, tenho a certeza que o sótão de Vilar de Pinheiro foi o espaço onde vivi (vivemos, digo eu) os momentos mais bonitos e mais significativos da minha (nossa) juventude e, por isso, o recordo com muita saudade(...)
GAIVOTA DO FOCO
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