terça-feira, 27 de novembro de 2007

7 Maravilhas - Rui Veloso e Carlos do Carmo

Nada como juntar o Porto a Lisboa
no voo de uma gaivota

2 Comentários:

Às 29 de novembro de 2007 às 02:24 , Anonymous Anónimo disse...

Fala do homem nascido PDF Imprimir e-mail
António Gedeão - Poemas

Imagem do Manuscrito
Imagem do Manuscrito



(chega à boca da cena, e diz:)

"Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.


Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.


Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.


Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.


Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar."


António Gedeão, in Teatro do Mundo

 
Às 29 de novembro de 2007 às 02:41 , Anonymous Anónimo disse...

"Omissão"

Uma noviça, jovem de talento
na arte do desenho e da pintura,
pede à madre abadessa do convento
o favor de lhe ver uma figura

Era a imitação escrupulosa
de um menino em tamanho natural
que pertencia a soror Anna Rosa,
tido em conta de um belo original!

A soro costumava, por decência
tê-lo com uma tanga pequenina,
que lhe encobria aquela saliência
que distingue o menino da menina.

Mas uma tanga tão apropriada
no tecido e na cor, que na verdade
a gente olhava e não lhe via nada
que desmentisse a naturalidade.

Era, pois, de esperar que a nossa artista,
assim como no mais, naquela parte
pintasse apenas o que tinha à vista
que é o preceito e o primor da arte.

Vê a madre abadessa a maravilha,
e não se cansa de a louvar! Mas lança
a vista atenta àquele ponto: "Ai, filha,
que falta essencial!... Pobre criança!

Que pena! O colorido, que beleza!
pernas, braços e tudo, que perfeito!
Mas confesso... Confesso com tristeza...
Que enorme, que enormíssimo defeito!"

JOÃO DE DEUS
(Gaivota da Beira Tejo)

 

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