"Omissão"
Uma noviça, jovem de talento
na arte do desenho e da pintura,
pede à madre abadessa do convento
o favor de lhe ver uma figura.
Era a imitação escrupulosa
de um menino em tamanho natural
que pertencia a soror Anna Rosa,
tido em conta de um belo original!
A soror costumava, por decência,
tê-lo com uma tanga pequenina,
que lhe encobria aquela saliência
que distingue o menino da menina.
Mas uma tanga tão apropriada
no tecido e na cor, que na verdade
a gente olhava e não lhe via nada
que desmentisse a naturalidade.
Era, pois, de esperar que a nossa artista,
assim como no mais, naquela parte
pintasse apenas o que tinha à vista
que é o preceito e o primor da arte.
Vê a madre abadessa a maravilha,
e não se cansa de a louvar!
Mas lança a vista atenta àquele ponto:
"Ai, filha, que falta essencial!...
Pobre criança!Que pena!
O colorido, que beleza!
pernas, braços e tudo, que perfeito!
Mas confesso... Confesso com tristeza...
Que enorme, que enormíssimo defeito!
JOÃO DE DEUS
(de Gaivota da Beira Tejo)
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