REGRESSO
A gaivota voltou.
Trazia nas asas a fadiga da viagem
E no corpo marcas de muitos mares.
Vinha não sabia de onde.
Um temporal repentino
Que não conseguira pressentir
Arrastara-a para longe
Para locais por onde nunca passara
Mesmo quando, por curiosidade,
Viajava no alto do mastro dos navios
Que saíam do porto
Demandando terras estranhas.
Nunca se afastava muito.
Quando deixava de ver o seu areal,
Temendo que a viagem fosse longa
E a afastasse do seu bando,
Logo levantava voo
E regressava à praia de onde partira.
Desta vez fora diferente.
Embrulhada no vento e na chuva
Perdera a sua rota.
Tivera que gastar tempo e forças
Para encontrar uma marca,
Apenas uma, que lhe servisse de farol.
Os dias passaram,
As marés mudaram,
O temporal acabou.
E quando o sol voltou a brilhar
Escolheu o primeiro barco que passou
E que lhe cheirou à praia de onde partira.
Voou para o mastro mais alto
E desejou que ele a trouxesse de volta.
Foram dias de espera
De estudo do horizonte
E de pequenos voos de observação.
Um dia amanheceu a sentir-se em casa.
Ouvia toques de navios conhecidos
E traineiras a entrarem no porto.
Levantou voo,
Foi batendo as asas devagarinho
Ao compasso da esperança de chegar.
O seu corpo
Desenhou sombras
Sobre um areal extenso
Desabitado àquela hora.
Não viu o bando
Mas sentiu que chegara.
Quando pousou,
Morta de cansaço,
Recebeu o presente
De o fazer no calor
De um certo acolchoado de penas
Que lhe deram a certeza
Que mais do que estar em casa
Não estava só.
gm
4 Comentários:
Uma história com destino?
Alguém se reconhece nela?
Pois... lendo e analisando melhor, só pode ser uma história autobiográfica. Acertei?
O poema é lindíssimo, parabéns!
Gaivota do Sul
Obrigada, gaivota do sul, por me ler e me participar que gosta do que lê. As minhas incursões poéticas surgem em diversas situações. E a gaivota Maria é uma personagem que me apoia muito. Uma espécie de outro eu (diferente de heterónimo). Creio que compreendeu...
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