domingo, 30 de agosto de 2009

A IMPRENSA COLORIDA

Surgiu há meia dúzia de anos o termo “imprensa cor-de-rosa” para designar as revistas que se dedicam a por a nu a vida de gente que quer ser conhecida e que para isso vive de conceder entrevistas, facilitar reportagens em que mostra o seu “way of life”e o que faz (se é que para além disso faz alguma coisa). Cada minuto que expõe é pago a bom dinheiro, dinheiro esse que enche os bolsos de quem escreve ou fotografa e esvazia os de quantos correm para os quiosques na ânsia de saber com quem dormiu o Cristiano Ronaldo, qual o novo namorado da Cinha Jardim, a nova gravidez de uma tal Elsa Raposo ou as operações a que se submetem algumas rapariguinhas da nossa praça (que proclamam o nome do autor da façanha pois nisso consiste o pagamento da intervenção). Esta imprensa tem uma tiragem espantosa e vende-se como água do mar. As suas fãs espiolham as páginas uma a uma com medo de perderem qualquer pormenor escabroso. E apropriam-se das personagens como de uma pessoa de família. As esperas nos consultórios médicos, cabeleireiros, gabinetes de fisioterapia, etc. custam muito menos porque a leitura profunda desses exemplares, a maioria com meses de atraso, preenchem o tempo dos utentes. Há uns meses, andei na fisioterapia. Todos os dias tinha o cuidado de levar um livro porque só a minha parte de tratamento demorava mais de hora e meia (o resultado foi tão bom que acabei na sala de operações…) Contudo a partir de uma determinada altura deixei o livro em casa porque não havia condições de leitura devido ao barulho das conversas soltas à minha volta. Toda aquela gente falava dos figurantes da dita imprensa de uma forma tão conhecedora e acalorada que quase me convenceram que eram íntimos dos ditos. Um dia resolvi intrometer-me e tentar explicar que as novas mamas da Maya, assim como a pele de adolescente da Lili Caneças tinham sido pagas pelos institutos que as operaram como forma de marketing. Rapidamente tive que me remeter ao silêncio porque o que eu estava a tentar dizer era, para essa gente, uma profanação dos seus ídolos. Não posso dizer que nunca li ou não passei os olhos pelas ditas revistas. No meu cabeleireiro é fatal. Só se fosse cega é que não veria os títulos. Foi assim que fiquei a saber que o Figo se depilou a laser e o Jorge Gabriel fez uma lipoaspiração. Como podem ver saí de lá muito mais rica. Nem comento até porque se trata de duas pessoas por quem tenho o maior respeito. Acredito piamente que muita da gente que ali aparece, até nem quereria. Mas aquilo faz parte do seu estatuto de celebridade e têm de aguentar. Os mais “badalados” e importantes normalmente têm direito a produção especial. Basta ler as notas finais de agradecimento para perceber que os locais das poses dessas estrelas foram alugados para o efeito, o vestuário emprestado e os cabelos penteados de borla. O restante povo que orna aquelas páginas não tem nada disso e, num último esforço para aparecer, telefona antecipadamente para as revistas revelando a sua agenda afim de ser encontrado. Boa e fácil maneira de ganhar a vida.
Surgiu, com as eleições, um novo personagem “rosa”, mas que aparece estampado na outra imprensa, na que eu chamo cinzenta por causa da cor do papel. Refiro-me ao Secretário Geral do Partido Socialista, que antes mesmo de estar aberta a Campanha eleitoral, se serve do seu lugar de Primeiro Ministro para fazer campanha pelo clube a que pertence. Com esse objectivo e PARA SER VISTO, anda a inaugurar o que já estava lançado, mas inacabado, a retomar ideias antigas que “jamais” nós queremos, a aparecer em acidentes de praia que avista de longe para não sujar os sapatinhos, abrir comportas, visitar numa tarde 3 localidades de distritos diferentes (contíguas em 20 kms de mapa). Acompanham-no a imprensa convocada para o efeito que o fotografa em cada acontecimento, cada palavra, cada troca de vestuário de marca, cada gesto sempre e sempre abrilhantado pelo seu sorriso publicitário, não sei se ao dentista, se à pasta de dentes ou porque, enquanto vedeta, simplesmente acha que fica bem sorrir. Afinal que é que o distingue de qualquer uma das personagens da dita Imprensa cor-de-rosa?

2 Comentários:

Às 31 de agosto de 2009 às 16:05 , Blogger GP disse...

Gente que, se não passasse essa imagem, não tinha mais nada para dar aos portugueses. É o Portugal dos muito pequeninos...

Beijinho

 
Às 31 de agosto de 2009 às 17:57 , Blogger Gaivota Maria disse...

Mas é o que temos. Esperemos que a coisas levem uma reviravolta. Beijo

 

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