O MEU ADEUS A LUÍS ANDRADE
No telejornal do Canal 1 acaba de ser anunciada a morte de um antigo Director de Programas da RTP, Luís Andrade. Conheci-o em 1977 quando o Raúl Solnado, o Fialho Gouveia e o Carlos Cruz, após o êxito do Zip, Zip, decidiram fazer um concurso, o primeiro do género, em que pessoas que, à partida, nada teriam a ver com o mundo da música ou do teatro, se inscreviam e teriam de fazer uma série de provas, desde canto a dança, passando pelo teatro e por um inquérito sobre obras literárias. Era Director desse Programa, Luís Andrade, então um "mocito" de 42 anos mas com uma já vasta experiência nas lides de direcção televisiva. Por força devontade dos alunos de uma turma minha da escola do Castelo da Maia, foi enviado para a televisão, logo para o 1º programa, um postal com o meu nome e o do meu marido. E como não tinha havido programa expeimental para vermos o que aquilo iria dar, poucos postais entraram. E nós fomos um dos nove casais escolhidos, vá lá Deus saber porquê. Contactada a RTP, mandaram-nos por fax a explicação das provas a que teríamos de ser sujeitos e deram-nos uma semana para nos prepararmos. No sábado, entrámos no teatro Villaret, em Lisboa, com uma vaguíssima ideia do que nos poderia acontecer e fomos recebidos pelo Raúl e pelo Luís Andrade que juntamente com o Fialho Gouveia nos iriam seleccionar. Foi uma tarde longa, mas muito divertida apesar da disputa em causa, dado que só três casais entre os nove iriam ser seleccionados e seriam apresentados no programa, a gravar na segunda-feira seguinte. Calhou nós sermos um dos pares escolhidos e assim, desde sábado até segunda ficámos ás ordens da RTP, com ensaios sucessivos até ao espectáculo que seria gravado somente na 2ª feira. Foi aí que o Luís Andrade entrou nas nossas vidas. Resolveu adoptar-nos e mostrar-nos como se organizava e gravava um espectáculo daquele tipo. Como o VIllaret não tinha espaço, uma caravana instalada numa entrada de garagem uns prédios abaixo, servia de régie. Com o Luís ali passámos muito do nosso tempo e encetámos uma amizade.Como agradámos, ficámos no Chamado Pódio, mais 2 vezes. E até ao final de 1977, quando o concurso acabou, ali voltámos mais uma vez como concorrentes e estivemos juntos quase uma semana no Porto, quando toda a equipa aqui se deslocou para uns programas de beneficência, realizados no Sá da Bandeira, por altura do Natal. Formávamos então uma grande família, com algumas disputas pelo meio, como acontece em todas as famílias. Luís Andrade sempre pacificou as hostes com o seu sorriso calmo (coisa que ele não era).
Desse grupo já alguns partiram. Agora foi a vez do Luís. Ficou mais funda a sua saudade em nós.
Para todos esses que nos deixaram, para os que ainda cá estão e se lembram bem do convívio estabelecido e para o Luís, muito especialmente para ele, que berrava um "Entra" quando a música tinha de começar, aqui fica uma evocação da Visita da Cornélia
Repousa em paz, Luís
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