domingo, 1 de março de 2009

REFLEXÕES, COINCIDÊNCIAS E OUTRAS COISAS MAIS

Quando acordo de noite e fico desperta muito tempo, ligo o rádio, enfio os auriculares e deixo-me ficar a ouvir. Como não consigo readormecer com música, procuro estações em que haja gente a falar. Daí que ouça com frequência a Rádio Nacional de Espanha em que há conversatas toda a noite. Quando me canso e mesmo assim não adormeço ligo para uma estação portuguesa que tenha os mesmos parâmetros e acabo sempre por ouvir as transmissões da IURD. E isso aconteceu-me esta madrugada. E lá fui ouvindo os discursos empolgados e laudatórios dos bispos daquela seita logo seguidos por uma sequência de testemunhos de pessoas que se “converteram” por causa das transformações que as suas vidas sofreram desde que descobriram o Centro de Ajuda Espiritual daquela instituição. Todas contam a mesma história: tinham tido uma vida sofrida, com dificuldades de saúde, económicas e relacionais. Todas foram vítimas de mau-olhado, difamações, invejas, insultos e até magia negra. Mas depois de frequentarem o tal Centro, “foram abençoadas” e os problemas evaporaram-se: estão bem da vida, felizes, têm saúde, emprego e casa própria. Até fazem lembrar alguns dos políticos da nossa praça quando misturam actividades…
Acabei por adormecer. Quando me levantei e procedi à minha rotina habitual, liguei a TV e em todos os canais tinha estampado o Congresso do PS com a figura de José Sócrates a dominar o cenário. De repente, mas só mesmo de repente, achei que havia uma estranha coincidência entre o discurso das testemunhas da IURD e o do José Sócrates dos últimos tempos em que se tem apresentado também como uma vítima do mesmo tipo de perseguições. Contudo hoje mostrava-se de sorriso confiante e espírito liberto, como máximo senhor do espaço. A ausência do Manuel Alegre poderá ter contribuído para isso. Mas depois de tudo quanto tinha ouvido de noite perguntei-me se, por acaso, ele, na busca de uma solução para os seus males não teria feito alguma visita clandestina ao tal Centro de Ajuda Espiritual da IURD. Nunca digam desta água não beberei! Isso poderia explicar aquela atitude mais liberta frente às centenas de pessoas presentes no Congresso à semelhança da IURD que põe os “abençoados” a fazerem depoimentos perante grandes assembleias. E se os irmãos desta última pagam dízimos aos seus bispos, nós pagamos impostos ao governo, parte dos quais vão para os partidos e com os quais estes pagam Congressos cheios de luz, cor, tecnologia e afins…
O que vi do Congresso não me espantou: à cabeça ficaram os mesmos (os donos do partido), os “que se portaram bem” (como os que gostam de malhar) foram recompensados e subiram no escalão das posições hierárquicas. O resto foi compensado com um fim-de-semana em Espinho iluminado pelo sol.
De notar a ausência virtual do Primeiro-ministro que deveria estar em Bruxelas a estabelecer as coordenadas para a superação da crise nacional o que explica que tenha sido representado nesta Assembleia pelo Secretário Geral do partido.

Mas originais, verdadeiramente originais neste evento estiveram o apagão que não estava previsto, a obamiana mudança de cenário e a substituição do rosa pelo azul. Com mais um jeitinho, nas próximas eleições vamos ter as bandeiras com um enorme arco-íris.

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