RESPOSTA PÚBLICA A UM COMENTÁRIO PRIVADO
A propósito da postagem que aqui fiz de um mapa com o Portugal Insular e Ultramarino e a que dei o título "ESTE É O MAPA DE UMA PARTE DO PAÍS EM QUE NASCI E CRESCI E QUE ME ROUBARAM", um anónimo, escondido atrás das iniciais BC, fez o seguinte comentário:
ROUBARAM????? Este mapa é parte de um um País onde nasci quase há 50 anos(no seio de uma sã família que desde cedo me ensinou os valores da DEMOCRACIA)onde a falta de liberdade e a repressão reinavam. Onde os povos autocnes dos agora países livres eram "escravizados" pelos seguidores dos srs. ditadores do governo de então.
Só saudosistas do fascismo, podem, sem qualquer pudor ou respeito pela liberdade do HOMEM "dizer" que este Mapa é parte do país em que nasceram e lhe roubaram
Perante essas afirmações pouco consistentes e baseadas em conceitos pessoais de fascismo e democracia, construídos no pós 25 de Abril, não poderia de modo nenhum ficar calada.
Em primeiro lugar não reconheço a este anónimo BC competência para avaliar um regime de que não tem memórias. Só se avalia aquilo de que se têm vivências. Atendendo a que ainda não tem 50 anos, terá nascido pelos anos 60 do século XX. Em 1974 andaria pois pelos 14 anos. Seria aquilo a que chamamos “um puto”. Eu, pelo contrário, já tinha 32 anos, 2 filhas, 2 crises académicas, amigos que foram presos, outros que lutaram nas diversas partes de África e da Ásia. Destes perdi alguns. Outros voltaram, mas se não trouxeram mazelas físicas ainda conservam as psicológicas. Contudo é interessante notar um facto que é muito pouco falado porque convém a algumas pessoas. O 25 de Abril não foi feito por esta gente que partiu obrigada. Se consultar as listas dos “heróis da revolução” verificará que quem a fez foram os tropas de carreira, os que iam para lá ganhar bom dinheiro e entre os quais houve o menor número de baixas. Eu sei porquê, mas não lhe digo. Deixo-o procurar as razões. Vai-lhe ser salutar.
Embora possa não acreditar eu fui criada pelo homem mais democrata que conheci – o meu pai. Ele ensinou-me e deu-me a oportunidade de participar directamente no processo de tomada de decisões. Não sei se sabe, mas esta é a base do conceito de democracia, seja ela familiar ou política. Por isso tenho um conceito de democracia muito saudável.
Como vê, e pelo que disse atrás, eu tinha todas as razões para não gostar do fascismo, aquele regime ditatorial de extrema-direita, de partido único, caracterizado por exacerbado nacionalismo, corporativismo, censura à imprensa, intolerância política, racismo e uso da violência física contra os opositores. Mas vivi nele e apesar das agruras que senti não me dei mal. Por isso compreendo que diga que eu tenho saudades do fascismo. Só que lhe vou revelar um segredo: a falar francamente tenho-me dado muito pior agora. E por isso aqui vai outro segredo: Eu não tenho saudade do fascismo, SIMPLESMENTE PORQUE NESTE MOMENTO ESTAMOS A VIVER NUM ESTADO FASCISTA, SÓ QUE DE OUTRA COR - A DO PARTIDO NO PODER.
Não entende? É natural. Para compreender isto precisa de ter as experiências do antes do 25 de Abril (que não tem) e do logo depois (que não compreendeu) e comparar com o momento presente. Não estou a falar de crise. É de política. É capaz de me explicar qual a diferença entre um partido único e um partido com maioria absoluta? Em ambos os casos não precisam de ninguém para discutir decisões pois que têm o poder todo na mão. E mesmo que sejam contestados, os “cães ladram e a caravana passa”. Que é que se passa entre este governo e a Assembleia da República para além de insultos e demagogia? Nada. Por mais que a oposição se esforce.. . NADA. A intolerância do partido no poder é total. Diríamos que igualzinha ao antes 25 de Abril. Só que com mais arrogância e falta de vergonha.
Censura? Não, não há os homens do lápis azul. Mas há a pressão do poder. Quantos jornais fecharam as portas? Quantos jornalistas estão no desemprego? Não será isso uma forma de violência se não física pelo menos psicológica? Também temos a física do ministro que gosta de malhar… E que me diz acerca da tolerância política? Onde está ela neste país? Quem não está comigo está contra mim.
E sobre a impunidade? Tive pena que não falasse dela.
E que me diz à grandiosa e inesperada eleição de um candidato único a Secretário-Geral com
92,….% dos votos. Não será esse valor enquanto demonstração de veneração exacerbada também uma forma de fascismo?
Antes do 25 de Abril falava-se dos ganhos extraordinários e dos escândalos dos membros do regime. Além do Ballet Rose nunca ninguém conseguiu provar nada. Dizia-se que por causa da censura. Deu-se o 25.4 e abriram-se os arquivos. Onde estavam as grande fortunas e os pecados dos governantes? Acha que se existissem não se teria sabido? A única fortuna que ficou foi a dita pesada herança do ouro até então arrecadada e que rapidamente foi desbaratada. Isto é democracia ou fascismo?
Voltemos aos dias de hoje. Conte-me quantos escândalos por causa de dinheiro já houve só este ano. Quem estava metido na maior parte deles? Se tem a memória curta eu refresco-lha: actuais e antigos governantes, agora colocados como gestores milionários em empresas que de alguma maneira têm a ver com o governo. Chama a isto democracia?
Esta resposta já vai longa mas há uma coisa que gostava que me explicasse. É sobre esta frase
Onde os povos autocnes (por acaso escreveu esta palavra pelo dicionário do Magalhães? Deixe que eu corrijo – autóctones) dos agora países livres eram "escravizados" pelos seguidores dos srs. ditadores do governo de então.
1ª pergunta – se estavam escravizados, porque fugiram todos para Portugal, para o país dos seus “coronéis”?
2ª pergunta – Se agora os seus países estão livres, porque não voltam eles para lá?
Como vê não tenho razão para ter saudades do fascismo. Ele está aí na sua versão mais pura, actualizada e reciclada.
Aconselho-o sinceramente a rever os seus conhecimentos de História de Portugal e a repensar o seu pensamento político. Quanto ao partidário, já que estamos na sua democracia, escolha o que lhe garantir algum proveito para a sua vida. Bem lá no fundo é isso que está a dar.
Com os melhores cumprimentos de uma gaivota livre, democrata, antifascista e bem portuguesa
5 Comentários:
Gaivota,
Deixei um comentário ao comentário do cretino que a quis comentar! Ele não vai perceber. Mesmo com três anos de passagens administrativas só agora teve oportunidade nas “novas oportunidades”... em breve estará doutor, ministro e administrador de banco ou talvez, pelo estilo, dono de uma (a)fundação que, com o nosso dinheiro e no centro comercial que já pagámos, nos mostra a “arte limianinha”.
Apenas me esqueci de escrever que num daqueles imensos espaços deixei camaradas, que hoje tem nome na muralha de Belém, e um pedaço de sangue!
Mas lembrei-me daqueles milhares que ficaram em La Couture, no próximo dia 9 passarão 91 anos, e dos esquecidos 40000 de Timor que, contra os japoneses, defenderam um trapo verde-rubro!
Também dificilmente poderei esquecer a ida da “cantina velha” a Caxias e daquela marca, que quase cinquenta anos depois, persiste nas minhas costas!
Um conhecido fascista diria:
“Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
...
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
...
Valeu a pena? “
"Tudo vale a pena
Quando a alma não é pequena..."
E nós sabemos, não o BC, que Portugal, apesar de tanta cacetada que lhe têm dado continua neste cantinho "À beira-mar plantado" com os olhos fitos no além porque sabe que vai continuar a ser Portugal apesar das ameaças internas para o desfazerem.
Como diria Sebastião da Gama "pelo sonho é que vamos". Talvez fosse bom ao BC ler a pedra Filosofal e a Mensagem, duas coisas que não deve ter aprendido nas escolas por onde andou nem vêm, de certeza, no Magalhães. Um abraço bem português desta gaivota do Norte, "porra"!
Gaivota Maria
A resposta ao BC não podia estar melhor. Eu acrescento que, um cunhado meu, técnico de uma CCDR deste país, dito democrata, ousou dar um parecer desfarorável ao TGV. O seu superior hierárquico, lá colocada pelo PS, colocou-o na prateleira e elaborou, sem ter competência tal, um parecer favorável. Ao meu cunhado restou pedir a reforma antecipada. Como lá ficou a minha irmã, a raiva virou-se contra ela que se viu forçada a, também, sair antes do tempo. Desta democracia eu não gosto.
Aos políticos de antes do 25 de Abril eu estou agradecida porque ter enriquecido à nossa custa. O mesmo não posso dizer dos políticos de hoje.
Um beijo grande
"carago"-è assim mesmo ,bela resposta.Só uma nortenha para lhe dar está lição.
g.mimi-outra nortenha que também passou o antes e o depois.
As minhas desculpas pelas gralhas do último parágrafo do meu comentário que reescrevo:
"Aos políticos de antes do 25 de Abril eu estou agradecida por não terem enriquecido à nossa custa. O mesmo não posso dizer dos políticos de hoje."
Escrevi com entusiasmo e não tive o cuidado de reler.
Beijinho
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