QUANDO OS PAIS APRENDEM COM OS FILHOS
Realiza-se de 29 de Novembro a 2 de Dezembro, em Lisboa, mais uma cimeira ibero-americana. Os países que fazem parte desta comunidade de países são, além de nós peninsulares, todos aqueles que habitam terras que foram descobertas e colonizadas na América Central e do Sul por Portugal e Espanha. Daí que os seus falares indígenas tenham sido trocados pelo português e pelo castelhano. Todos eles hoje respeitam, ou parecem fazê-lo, os países que os dominaram e dizem-se seus grandes admiradores. Contudo não vai longe o tempo em que acusavam toda a Ibéria por esse mesmo facto. Terão alguma razão, mas todos sabemos como eram feitas e o porquê dessas conquistas. Ao progressivo abandono das colónias espanholas por nuestros hermanos, seguiram-se algumas independências, entre as quais a do Brasil, se bem que pelas mãos de um príncipe português. Só que todo este movimento de libertação não foi acompanhado por um de estabelecimento de estruturas internas de poder e organização. E se alguns desses países conseguiram estabilizar-se ao longo do tempo, a maioria não conseguiu e tem graves falhas nas suas instituições sociais, políticas e administrativas e muito poucos sabem gerir as suas fontes de economia. Isso explica o aparecimento e permanência no tempo de ditadores, revoltas e dramas sociais e o consequente enraizamento de práticas de corrupção e de guerrilha. E porque esse continente é, (para além da Madeira que nada tem a ver com o objectivo deste meu pensar) o local de onde vêm as bananas que por cá se consomem, apareceu entre nós a expressão de “república das bananas” quando nos queremos referir a situações nacionais de confusão, mas sobretudo de corrupção.
Por tudo isto, quando tomei conhecimento da realização desta cimeira justamente agora e em Portugal, fiquei muito contente: Nós, os pais (sim porque a Espanha está de braço dado connosco), vivemos uma conjuntura que tem tudo daquilo que eles criaram a partir do que nós lhe demos. Assim durante esta cimeira os dignitários desses países terão oportunidade de observar ao vivo e em directo como eles têm sido importantes para nós no que toca à forma de organização e posta em prática de esquemas de corrupção activa e passiva assim como de manipulação da justiça. E vão ficar todos felizes porque vão saber que por cá também já não se acabam julgamentos – só se adiam; não se prendem banqueiros – vão de pulseira para casa ou deixam-se continuar livres para acabarem alguns negócios particulares; suspendem-se arguidos em processos, mas continuamos a pagar-lhes o ordenado; que o enriquecimento ilícito é visto como uma forma de promoção por esforço laboral; e que os responsáveis pela magistratura deste país, com o argumento da quebra do sigilo judicial, não revelam escutas de “conversas privadas”, sobretudo se nelas aparecem certas vozes privadas cuja identificação poderia fazer com que o poder caísse na rua. Certamente que os nossos “filhos sul-americanos” ao tomarem conhecimento deste estado de coisas irão ficar felizes porque se irão reconhecer nele. Assim sentir-se-ão em casa porque nós também já somos uma “república das bananas”.
GM
A publicar em Matosinhos Hoje
1 Comentários:
Mimi
O meu comentário junto à poesia. Ficará lá bem melhor.
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