domingo, 6 de dezembro de 2009

O PAÍS QUE SOMOS


Na semana passada realizaram-se em Lisboa dois acontecimentos de importância para o mundo: a Cimeira ibero-americana e a assinatura (definitiva?) do tratado de Lisboa. Como sempre esmerámo-nos a receber bem os visitantes e como sempre o fizemos em cenários (Torre de Belém e Jerónimos) que recordam a nossa única e grande epopeia, o momento da nossa história que nos deixa alguma marca de glória: os descobrimentos. E durante essas instantes de pompa passámos por cima da confusão que se vive por todo o país, e me poupo a citar por ser do conhecimento geral, e, bem lá no fundo, na nossa proverbial inconsciência, até fomos capazes de sentir um pouco de orgulho do país que somos. Vivemos durante 2 dias com a imagem de termos sido outrora o palco e os artistas da mudança. E esquecemos os séculos em que nos tornamos meros espectadores.
Também na mesma semana foi publicada pela Guimaraens Editora a edição facsimilada (ou seja uma “cópia” do trabalho escrito pelo próprio autor) da obra de Fernando Pessoa “A Mensagem”. Dela extraí e aqui deixo para reflexão de todos a poesia “Infante”, incluída no capítulo “O Mar português”. Escrita na primeira metade do século XX, constitui um alerta para os portugueses do século XXI. Na sua transcrição respeitei a escrita original do poeta, mãe da que eu aprendi na escola, para não o fazer na nova ortografia que me recuso a aprender. Já me tiraram muita coisa. Deixem-me morrer a escrever um português sem sotaque.


Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o Imperio se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

(texto a ser publicado in Matosinhos Hoje)

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