domingo, 13 de dezembro de 2009

CARTA AO PAI NATAL

Querido Pai Natal:
Certamente que vais estranhar esta minha carta. É que eu nunca te escrevi. Quando nasci tu, assim como a Coca-cola que te deu a cor, ainda não eras figura habitual nos Natais deste cantinho a que alguém chamou um dia “jardim à beira-mar plantado” (esta também nunca percebi muito bem porque em pequena nunca vi jardins junto às praias e agora nesses lugares puseram-lhes passeios marginais. Cá no sítio onde moro eles não têm árvores, quanto mais flores). Mas continuando, nos meus primeiros Natais em que já sabia escrever os meus pedidos eram endereçados ao Menino Jesus que na altura era o rei da festa e continham coisas normais para a nossa idade (a minha e a do Menino): brinquedos e livros. Com esta idade já não peço brinquedos, mas livros…ah! O raio dos livros continua a ser a minha perdição… Eram portanto pedidos inocentes de uma inocente a outro. Ora como o que eu quero pedir este ano não é próprio para se pedir a um menino ainda por cima santo, achei que tu serias o destinatário ideal. És mais velho por isso mais vivido e como corres o mundo todo tens muita experiência de culturas, gostos e necessidades. Podes por isso comparar melhor o que é bom e mau para as gentes que vivem nos vários países e assim serás capaz de estabelecer uma orientação para cada um deles. Só por isso é que tenho a coragem de te pedir:


Quando acabares a tua volta mundial, em vez de ires para casa descansar, experimenta vir para Portugal para nos ajudares!

Como deves estar farto de reparar, nós vivemos uma crise que é mais antiga do que as tuas barbas. Por isso já devíamos estar habituados. Mas não é que desta vez a crise está a ganhar caracóis como a ponta das tuas barbas? Arrasta-se, arrasta-se e como já está comprida demais, tende a enrolar-se, enrolar-se. A gente só começou a dar conta disso quando já não havia mais espaço no rolo e alguns pelos saltaram cá para fora. Este ano o país encheu-se deles apesar de quem manda em nós ter tentado escondê-los para não dar má impressão à EU e aos votantes. Ele foi o caso BPN, o BPP, o Freeport, a aprovação humilhante e rodeada de um certo secretismo (quando demos por ela … já estava) do acordo ortográfico e, para fechar o ano, quiseram esconder outros pelos que ainda estavam ocultos e de que só tivemos conhecimento porque houve escutas telefónicas que os “desocultaram”. Ora, Pai Natal, com a destreza que tens de domar as renas e a tua respeitabilidade reconhecida internacionalmente, parece-me que estarias bem habilitado a governar-nos. Se vieres, primeiro deves ir ao barbeiro rapar a barba porque assim, bem escanhoado, sem rolos nas pontas e sem pelos a descoberto não poderás ser acusado de estares com a face oculta. Contigo ao comando do país nós viveríamos mais confiantes, talvez o optimismo voltasse e a crise acabasse.
Agora já deves perceber porque eu não escrevi ao Menino Jesus. É que ele é inocente, mas como por cá tudo é inocente até ser culpado, temo que, se eu lhe pedisse para vir fazer o que te peço a ti e ele aceitasse, pudesse por qualquer desatenção acabar com termo de identidade e residência e certamente a Nossa Senhora não iria gostar nada.
Obrigada, Pai Natal

A publicar em Matosinhos Hoje em 14.12

2 Comentários:

Às 14 de dezembro de 2009 às 23:21 , Blogger GP disse...

Também tenho a nostalgia dos antigos Natais. Antes de substituirem o Menino Jesus pelo Pai Natal e o Presépio pela Árvore.
Quando se ti nha uma prenda que era gozada até à exaustão e não este disparate re rasgar um embrulho para pôr de lado e rasgar outro. Felizmente cá em casa isso não se passa.

Oxalá o Pai Natal venha cá dar uma voltinha. Não sei é se os políticos não acabarão com ele...

Beijinho

 
Às 15 de dezembro de 2009 às 09:09 , Blogger Gaivota Maria disse...

Ainda me lembro de receber só um presente, normalmente um livro ou (ou e não e) uma boneca, e que eram motivo de apego pelo menos até aos meus anos. Isto mais para a boneca porque quanto aos livros o meu pai passava o ano a dar-mos. Beijinho

 

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