O QUE FIZERAM DO NATAL
Natal
O sino toca fino.
Não tem neves, não tem gelos.
Natal.
Já nasceu o deus menino.
As beatas foram ver,
Encontraram o coitadinho
(Natal)
mais o boi mais o burrinho
e lá em cima
a estrelinha alumiando.
Natal.
As beatas ajoelharam
e adoraram o deus nuzinho
mas as filhas das beatas
e os namorados das filhas
foram dançar black-bottom
nos clubes sem presépio.
Carlos Drummond de Andrade
2 Comentários:
Nesta época do ano lembro-me particularmente de uma amiga minha (que em Janeiro vai jantar connosco) que tinha um único filho acabado de se formar em Economia e que morreu Há dois anos num desastre na Circunvalação. Nesse ano coloquei-lhe no meu blogue um poema que aqui deixo para todos os que, neste Natal, têm um lugar vazio à mesa.
Ladainha dos póstumos Natais
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do infinito.
David Mourão-Ferreira
Beijinho
Obrigada, minha amiga. Como cresceste para o lado de Serralves passas a ser a Gaivota de Serralves
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