Carta a meu Pai
Há pouco senti uma porta
bater
E pensei em ti, pai,
porque era aquela a hora em que saías
para trabalhar.
e para me levares ao colégio
e depois ao liceu
e, mais tarde, orgulhoso,
a Coimbra
Então disseste-me:
Como vai ser bom quando te vier buscar
já doutora.
Isso não aconteceu
porque partiste da minha vida
logo nesse ano
e perdemos juntos
a maior parte de nós:
Não me viste formar
Não me levaste ao altar,
Não conheceste as tuas netas
(não conhecer é um modo de dizer,
porque tanto falámos de ti
que até tens um bisneto João, como tu,
o mais novo da família)
Como vês, ainda és falado entre o mulherio
da casa que nos deixaste
(coisa estranha quando nem a tuas netas
nem as bisnetas te conheceram).
Talvez a minha mãe, com quem já estás,
te tenha falado das netas
porque com quem as bisnetas também não conviveu.
Pai
Hoje é dia dos pais cá na terra, como te lembrarás.
Um dia para te festejar.
Dentro de mim assim o farei
como o faço todos os dias
porque nunca senti que me tivesses abandonado.
Sempre te senti dentro de mim.
Espera!
… senti agora mesmo
Uma brisa leve a passar…
Não resististe…já percebi!
Desceste de onde estás só para me beijar.
Um
beijo enorme embrulhado em saudade
Isabel
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