Este é o caderno de uma gaivota que conta histórias, diz poemas e fala de coisas da terra onde nasceu, cresceu e paira diariamente a espreitar os homens que nela habitam. É uma terra de sol, vento norte que arrefece as tardes de verão, mas também de vento sul ou sudoeste que traz tristeza e lágrimas... Eu sou essa gaivota que às vezes parte para outras terras em direcção ao desconhecido. Acompanhem-me através das minhas palavras, das minhas músicas e das fotos que tirei durante os meus voos...
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
VIAJAR
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente, Por a alma não ter raízes De viver de ver somente! Não pertencer nem a mim! Ir em frente, ir a seguir A ausência de ter um fim, E a ânsia de o conseguir! Viajar assim é viagem. Mas faço-o sem ter de meu Mais que o sonho da passagem. O resto é só terra e céu.
Por muita razões esta canção era uma das minha favoritas. Pena termos ficado privados desta voz cujo trágico fim se prenunciava há muito... Azar ou libertação?
Descendo de uma geração que nos anos 30 do século XX emigrou do interior para a cidade ou para o ultramar português. Apenas meu avô paterno , em finais de XIX, foi para o Brasil. Mas logo que ali casou voltou com a esposa para Portugal, parece que por vontade desta que era da mesma aldeia dele. Não estou no caso da imensa massa de portugueses que têm familiares um pouco por todo o mundo. Amigos sim, e bastantes. Mas os ventos da crise estão a virar o rumo para o meu lado e já começou o movimento de saída de familiares meus, justamente dos membros mais jovens. Segundo esta bela canção cujo poema foi escrito por Rosalia de Castro no auge da emigração dos finais do séc. XIX, a Galiza (que se estende até ao Porto) ficava mais pobre com estas partidas. Neste princípio do século XXI eu começo a ficar mais pobre também, com a partida dos que esperava ter a meu lado nesta fase da vida. Graças a Deus agora tenho low coast e Skype. Talvez isso atenue a morriña que já se me instalou na alma