quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

PAZ PARA UM NOVO ANO

RENOVAÇÃO

A todos quantos passaram por este blog ao longo deste ano desejo que tenham o 2010 com que sonham


Quando um chega, o outro parte, ou vice-versa
Respeito mútuo ao ceder o espaço
Mas com a vantagem de saber que reinou
durante todo o tempo, absoluto como um namorado ciumento
em momento algum saiu de perto
Aquele que parte sabe que ficará na lembrança
no começo será claro e marcante
depois irá enfraquecendo, apagando
como quem usa a borracha
Na memória ficará escrito somente aquilo que for mais forte
Mas foi bom estar ali de toda e qualquer maneira
fizeram juntos a caminhada
A despedida é uma festa fogos de artifícios, danças, afagos
alguns agradecem ao passado e outros já se sentem em liberdade

A passagem é para o novo
onde tudo recomeça.


Valdice Ribeiro

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

PERFEITAMENTE APLICÁVEL AO CASO PORTIUGUÊS

Um amigo brasileiro enviou-me este texto que me fez repensar na realidade que vivemos neste final de ano no nosso país. Só precisamos de substituir o adjectivo "brasileiro" por "português" na referência ao povo e trocar a música final pelo nosso hino para que ele se adapte perfeitamente ao nosso colectivo. E se pensarmos que ele foi escrito na primeira metade do século XX poderemos comprovar como nós não aprendemos nada com a História...

COM MÚSICA PERCEBE-SE MELHOR A POESIA ABAIXO

UM CORAÇÃO PARA PROCURARMOS EM 2010

A HEART OF GOLD

I want to live,
I want to give
I''ve been a miner
For a heart of gold.

It''s these expressions
I never give
That keep me searching
For a heart of gold

And I''m getting old.

Keeps me searching
For a heart of gold
And I''m getting old.

I''ve been to Hollywood
I''ve been to Redwood
I crossed the ocean
For a heart of gold

I''ve been in my mind,
It''s such a fine line
That keeps me searching
For a heart of gold
And I''m getting old.

Keeps me searching
For a heart of gold
And I''m getting old.

Keep me searching
For a heart of gold
You keep me searching
For a heart of gold
And I''m getting old.
I''ve been a miner
For a heart of gold.

NEIL YOUNG

Obrigada, Jorge, pela sua bela contribuição que faz voltar aos tempos do "amor e uma flor". A sua mãe perceberá esta mensagem. Um bom Ano para si também

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

CORTAR O TEMPO

>Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 27 de dezembro de 2009

2010

Em 2010 seja feliz nos seus sonhos
e tenha a felicidade de buscá-los...
Seja feliz nos seus projetos
e tenha a felicidade de realizá-los...
Seja feliz nos seus desejos
e tenha a felicidade de concretizá-los...
Seja feliz nos seus sucessos
e tenha a felicidade de obtê-los...
Seja feliz sempre, em todos momentos...


Autor desconhecido

sábado, 26 de dezembro de 2009

UMA GRANDE CANÇÃO PARA 3 GRANDES VOZES

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

UN ENFANT EST NÉ

JESUS NASCEU! ALELUIA

Acenda-se de novo o Presépio do Mundo!
Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos!
Como quem na corrida entrega o testemunho,
passo agora o Natal para as mãos dos meus filhos.

E a corrida que siga, o facho não se apague!
Eu aperto no peito uma rosa de cinza.
Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade,
para sentir no peito a rosa reflorida!

Filhos, as vossas mãos. E a solidão estremece,
como a casca do ovo ao latejar-lhe vida...
Mas a noite infinita enfrenta a vida breve:
dentro de mim não sei qual é que se eterniza.

Extinga-se o rumor, dissipem-se os fantasmas!
Ó calor destas mãos nos meus dedos tão frios!
Acende-se de novo o Presépio nas almas.
Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos.

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

NOITE FELIZ

RETRATO DE UMA CONSOADA

NATAL DE QUEM?

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei, não sei...

Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.

Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papéis
Sem regras nem leis.

E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.

A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!

João Coelho dos Santos

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

NATAL V

Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado
De ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas...
A divindade é o menos

Miguel Torga

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

NATAL IV


"SEMPRE NATAL"

O Natal não é somente
Celebrar solenemente
A data mais conhecida
Natal é qualquer momento
De amor e sentimento
Que ilumina a nossa vida.

É o dar sem receber
É no coração conter
Dimensão de caridade
É dar esmola ao mendigo
Ajudar os sem abrigo
Com franca fraternidade.

Natal é p’ro ser humano
Qualquer altura do ano
Em que visita um doente
Quando aos fracos dá a mão
E aos tristes em solidão
Ou conforta alguém ausente.

Natal é a força maior
A grande lição de amor
Que Cristo nos veio trazer
Sem grandes filosofias
Natal é todos os dias
Quando o queiramos fazer !...

EUCLIDES CAVACO

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

CARTA DO PERÚ DOS OLIVAIS

Adorada perua:
Há dias que, diante do patrão,
ando de rua em rua
não sei por que razão.
Como tu viste, o homem resolveu
fazermos em Lisboa a consoada,
para me divertir, suponho eu.
Porém, se adivinhasse esta estopada,
tinha-lhe dito logo que não vinha,
tanto mais, tanto mais, não vindo tu,
minha peruazinha,
por quem morre de amor o teu perú.
É para ver a terra? Não percebo,
pois mal ergo a cabeça para o ar
trabalha logo a cana do mancebo
e continuo a andar, a andar, a andar...
Às vezes lá paramos, mas estranho
também estas paragens,
porque me agarram certas personagens,
tomam-me o peso, notam-me o tamanho
e até (Deus me perdoe se ouço mal!)
discutem o valor,
como se eu fosse, amor,
uma coisa venal!

Adeus. Com isto não te enfado mais.
Havendo novidades
escrevo. Mil saudades
e beijos do

Perú dos Olivais

II

Meu anjo... Escrevo agora na cozinha
duma senhora muito delicada,
que me tem dado esplêndida papinha
assim como a criada.
Há pouco ainda (ora imagina, filha!)
deram-me até um copo de Bucelas
que me adoçou muitíssimo as goelas
e é uma verdadeira maravilha,
mas Deus queira, Deus queira
como só bebo água lá em casa,
que não me faça mal à mioleira
e que eu não fique com um grão na asa.
Amanhã te direi o que é passado.
Recebe mil bicadas cordiais
do teu apaixonado

Perú dos Olivais

III

Querida. Água a ferver... Uma panela
ao pé dum alguidar... tenho receio...
Fala-se em cabidela
e em perú de recheio...
Afia-se uma faca... Ó céus! Que horror!
O monco já me cai... Nunca supus...
Que é isto meu amor?
Ai Jesus! Ai Jesus!
Já tenho as pernas presas...
Tolda-se a vista... Engasgo-me... Agonizo...
Tremem-me as miudezas...
Turva-se-me o juízo...
Adeus: Recebe o último glu-glu
e os corais
do in... fe... liz
Pe... rú... dos O... li...vais


Poema de Acácio de Paiva
(Poeta da 1ª metade do séc. XX)

CANÇÃO DO NATAL ARGENTINO

sábado, 19 de dezembro de 2009

FICA SEMPRE BEM NESTA ALTURA DO ANO

BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim,
fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

NATAL IRLANDÊS

NATAL III

Na tal habitação volto a falar-te
Na tal que já eu-próprio não conheço
Na tal que mais que tálamo era berço
Na tal em que de noite nunca é tarde

Na tal de que por fim ninguém se evade
Na tal a que sei bem que não regresso
Na tal que umbilical cabe num verso
Na tal sem universo que a iguale

Na tal habitação te vou falando
Na tal como quem joga às escondidas
Na tal a ver se tu me dizes qual

Na tal de que eu herdei só este canto
Na tal que para sempre está perdida
Na tal em que o natal era Natal

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

NATAL II


Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio
nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos
por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,
e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.

Pedro Tamen

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

CANÇÃO DE NATAL MEXICANA

NATAL

Menino dormindo...
Silêncio profundo.
Benvindo, benvindo,
Salvador do Mundo!

Noite. Noite fria.
Mas que linda que é!
De um lado Maria.
Do outro José.

Um anjo descerra
A ponta do véu...
E cai sobre a Terra
A imagem do Céu!

Pedro Homem de Mello

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

NATAL ALEMÃO

NATAL UP-TO-DATE

Em vez da consoada há um baile de máscaras
Na filial do Banco erigiu-se um Presépio
Todos estes pastores são jovens tecnocratas
que usarão dominó já na próxima década

Chega o rei do petróleo a fingir de Rei Mago
Chega o rei do barulho e conserva-se mudo
enquanto se não sabe ao certo o resultado
dos que vêm sondar a reacção do público

Nas palhas do curral ocultam microfones
O lajedo em redor é de pedras da lua
Rainhas de beleza hão-de vir de helicóptero
e é provável até que se apresentem nuas

Eis que surge no céu a estrela prometida
Mas é para apontar mais um supermercado
onde se vende pão já transformado em cinza
para que o ritual seja muito mais rápido

Assim a noite passa. E passa tão depressa
que a meia-noite em vós nem se demora um pouco
Só Jesus no entanto é que não comparece
Só Jesus afinal não quer nada convosco

David Mourão-Ferreira

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

NATAL ITALIANO

É NATAL

É Natal, nunca estive tão só.
Nem sequer neva como nos versos
do Pessoa ou nos bosques
da Nova Inglaterra.
Deixo os olhos correr
entre o fulgor dos cravos
e os diospiros ardendo na sombra.
Quem assim tem o verão
dentro de casa
não devia queixar-se de estar só,
não devia.

Eugénio de Andrade

domingo, 13 de dezembro de 2009

CARTA AO PAI NATAL

Querido Pai Natal:
Certamente que vais estranhar esta minha carta. É que eu nunca te escrevi. Quando nasci tu, assim como a Coca-cola que te deu a cor, ainda não eras figura habitual nos Natais deste cantinho a que alguém chamou um dia “jardim à beira-mar plantado” (esta também nunca percebi muito bem porque em pequena nunca vi jardins junto às praias e agora nesses lugares puseram-lhes passeios marginais. Cá no sítio onde moro eles não têm árvores, quanto mais flores). Mas continuando, nos meus primeiros Natais em que já sabia escrever os meus pedidos eram endereçados ao Menino Jesus que na altura era o rei da festa e continham coisas normais para a nossa idade (a minha e a do Menino): brinquedos e livros. Com esta idade já não peço brinquedos, mas livros…ah! O raio dos livros continua a ser a minha perdição… Eram portanto pedidos inocentes de uma inocente a outro. Ora como o que eu quero pedir este ano não é próprio para se pedir a um menino ainda por cima santo, achei que tu serias o destinatário ideal. És mais velho por isso mais vivido e como corres o mundo todo tens muita experiência de culturas, gostos e necessidades. Podes por isso comparar melhor o que é bom e mau para as gentes que vivem nos vários países e assim serás capaz de estabelecer uma orientação para cada um deles. Só por isso é que tenho a coragem de te pedir:


Quando acabares a tua volta mundial, em vez de ires para casa descansar, experimenta vir para Portugal para nos ajudares!

Como deves estar farto de reparar, nós vivemos uma crise que é mais antiga do que as tuas barbas. Por isso já devíamos estar habituados. Mas não é que desta vez a crise está a ganhar caracóis como a ponta das tuas barbas? Arrasta-se, arrasta-se e como já está comprida demais, tende a enrolar-se, enrolar-se. A gente só começou a dar conta disso quando já não havia mais espaço no rolo e alguns pelos saltaram cá para fora. Este ano o país encheu-se deles apesar de quem manda em nós ter tentado escondê-los para não dar má impressão à EU e aos votantes. Ele foi o caso BPN, o BPP, o Freeport, a aprovação humilhante e rodeada de um certo secretismo (quando demos por ela … já estava) do acordo ortográfico e, para fechar o ano, quiseram esconder outros pelos que ainda estavam ocultos e de que só tivemos conhecimento porque houve escutas telefónicas que os “desocultaram”. Ora, Pai Natal, com a destreza que tens de domar as renas e a tua respeitabilidade reconhecida internacionalmente, parece-me que estarias bem habilitado a governar-nos. Se vieres, primeiro deves ir ao barbeiro rapar a barba porque assim, bem escanhoado, sem rolos nas pontas e sem pelos a descoberto não poderás ser acusado de estares com a face oculta. Contigo ao comando do país nós viveríamos mais confiantes, talvez o optimismo voltasse e a crise acabasse.
Agora já deves perceber porque eu não escrevi ao Menino Jesus. É que ele é inocente, mas como por cá tudo é inocente até ser culpado, temo que, se eu lhe pedisse para vir fazer o que te peço a ti e ele aceitasse, pudesse por qualquer desatenção acabar com termo de identidade e residência e certamente a Nossa Senhora não iria gostar nada.
Obrigada, Pai Natal

A publicar em Matosinhos Hoje em 14.12

VILLANCICOS DE NAVIDAD

NATAL

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.
Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.
Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre

sábado, 12 de dezembro de 2009

SONETO DE NATAL

Um homem, — era aquela noite amiga,
noite cristã, berço no Nazareno, —
ao relembrar os dias de pequeno,
e a viva dança, e a lépida cantiga,

quis transportar ao verso doce e ameno
as sensações da sua idade antiga,
naquela mesma velha noite amiga,
noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca
pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
a pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Machado de Assis

COLABORAÇÃO DA GAIVOTA DE SERRALVES

Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do infinito.

David Mourão-Ferreira

Beijinho

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O QUE FIZERAM DO NATAL

Natal
O sino toca fino.
Não tem neves, não tem gelos.
Natal.
Já nasceu o deus menino.
As beatas foram ver,
Encontraram o coitadinho
(Natal)
mais o boi mais o burrinho
e lá em cima
a estrelinha alumiando.
Natal.

As beatas ajoelharam
e adoraram o deus nuzinho
mas as filhas das beatas
e os namorados das filhas
foram dançar black-bottom
nos clubes sem presépio.

Carlos Drummond de Andrade

SERÁ ISTO O ESPÍRITO DE NATAL? VAMOS TENTAR QUE NÃO SEJA

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

E TAMBÉM VAI CHEGAR O PAI NATAL

EIS QUE ESTÁ A CHEGAR O NATAL!

De hoje a 15 dias é Véspera de Natal. Este ano espero-o com muita ansiedade e tenciono estreitar ainda melhor as minhas relações de amor com o Menino Jesus. Convido todas as pessoas que vieram voar por este blogue a deixarem ficar uma poesia natalícia, um texto ou uma música para em conjunto celebrarmos esta data.

FELIZ NATAL

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

GAIVOTAS + LISBOA: QUE COMBUSTÃO! GRANDE O'NEILL

Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

FESTA DA POESIA (3)

Acabou a Festa da Poesia
Ontem perdi o concerto de fado de Pedro Moutinho que soube ter sido muito bom.
Hoje a tarde começou com a brilhante forma de dizer poesia de Vítor de Sousa. Florbela surgiu no seu esplendor na boca daquele actor.
Ao ler o programa desta festa saltei, por distracção, a intervenção de José Jorge Letria com leituras da obra de Jorge de Sena. Por isso não me tinha referido a este ponto. Jorge de Sena não é fácil de ler e de perceber. José Jorge Letria escreve melhor do que lê. Esta conjugação fez com que este ponto do programa nos tivesse parecido demasiado complexo e longo. Salvou-se o esplêndido fundo musical de António Palma e Guto Lucena. De destacar as interpretações do fado "um Homem na cidade" e da "Canção do mar".
A mesa final acabou por na prática não discutir poesia, como era suposto, mas ser essencialmente uma leitura de poemas pelos autores presentes e por alguns assistentes. Esperava um pouco mais. A moderadora poderia ter feito bem melhor. Tinha obrigação disso.
E agora "até para o ano".... Pode ser que então as coisas tenham mais brilho no seu conjunto.

FESTA DA POESIA(2)

A festa da Poesia da Biblioteca Florbela Espanca de Matosinhos acaba hoje e da melhor maneira. Depois da poesia que Vítor de Sousa dirá teremos a oportunidade de assistir a uma mesa redonda com a participação de José Silva, Valter Hugo Mãe, João Luís Barreto Guimarães, nosso conterrâneo, Manuel António Pina e a "minha" Ana Luísa do Amaral. Este "minha" não quer dizer só a minha poetisa favorita, mas também que entre nós duas há uma ligação muito especial. A Ana Luísa foi minha aluna de Português em plena adolescência. Esquecendo a parte da Gramática, já então ela tinha uma imaginação pujante e brilhante. Desculpem-me a vaidade pessoal. Mas nem todos os professores se podem orgulhar de uma aluna como esta. A mesa será moderada por Isabel Pires de Lima.

SILOGISMOS

A minha filha perguntou-me
o que era para a vida inteira
e eu disse-lhe que era para sempre.
Naturalmente, menti,
mas também os conceitos
de infinito são diferentes:
é que ela perguntou depois
o que era para sempre
e eu não podia falar-lhe em universos
paralelos, em conjunções
e disjunções de espaço e tempo,
nem sequer em morte.
A vida inteira é até morrer,
mas eu sabia ser
inevitável a questão seguinte:
o que é morrer? Por isso respondi
que para sempre era assim largo,
abri muito os braços,
distraí-a com o jogo que ficara a meio.
(No fim do jogo todo,
disse-me que amanhã
queria estar comigo para a vida inteira)

Ana Luísa Amaral

Podem ouvir esta poesia em
http://www.truca.pt/ouro/poemas_est_raposa/ana_luisa_amaral_silogismos.mp3

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

FESTA DA POESIA

Hoje e amanhã está a decorrer em Matosinhos, na Biblioteca Florbela Espanca, a Festa da Poesia. Neste fim de tarde foi um prazer ouvir o José Fanha dizer poesia, falar de afectos, ilustrado pelas canções de Francisco Mendese acompanhado ao piano pelo António Palma. Foi muito bom puder assistir e brindar à vida com um Alvarinho. Amanhã há mais...

JOSÉ FANHA DIZ "ENTRELINHAS"

domingo, 6 de dezembro de 2009

O PAÍS QUE SOMOS


Na semana passada realizaram-se em Lisboa dois acontecimentos de importância para o mundo: a Cimeira ibero-americana e a assinatura (definitiva?) do tratado de Lisboa. Como sempre esmerámo-nos a receber bem os visitantes e como sempre o fizemos em cenários (Torre de Belém e Jerónimos) que recordam a nossa única e grande epopeia, o momento da nossa história que nos deixa alguma marca de glória: os descobrimentos. E durante essas instantes de pompa passámos por cima da confusão que se vive por todo o país, e me poupo a citar por ser do conhecimento geral, e, bem lá no fundo, na nossa proverbial inconsciência, até fomos capazes de sentir um pouco de orgulho do país que somos. Vivemos durante 2 dias com a imagem de termos sido outrora o palco e os artistas da mudança. E esquecemos os séculos em que nos tornamos meros espectadores.
Também na mesma semana foi publicada pela Guimaraens Editora a edição facsimilada (ou seja uma “cópia” do trabalho escrito pelo próprio autor) da obra de Fernando Pessoa “A Mensagem”. Dela extraí e aqui deixo para reflexão de todos a poesia “Infante”, incluída no capítulo “O Mar português”. Escrita na primeira metade do século XX, constitui um alerta para os portugueses do século XXI. Na sua transcrição respeitei a escrita original do poeta, mãe da que eu aprendi na escola, para não o fazer na nova ortografia que me recuso a aprender. Já me tiraram muita coisa. Deixem-me morrer a escrever um português sem sotaque.


Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o Imperio se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

(texto a ser publicado in Matosinhos Hoje)

sábado, 5 de dezembro de 2009

UMA GRANDE VOZ PARA UMA TARDE DE TEMPORAL

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

4 DE DEZEMBRO - UMA SAUDADE DE 29 ANOS

29 anos passados persiste a saudade e põe-se uma pergunta: Com eles o país teria sido o mesmo?

Os mortos também se amam
Acasalam-se à terra
E fazem-se lenda
Para que novas gerações
Se amem mais e melhor…


Filimone Meigos (autor africano)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PHOTO BY MAFALDA ORTIGÃO



Esta belíssima foto foi feita pela minha neta mais nova durante a sua visita a Amsterdam. A continuar com esta pedalada, a minha futura assistente social vai ter também êxito em fotografia. Parabéns, meu amor, e desculpa ter utilizado a tua obra sem ordem. Mas estou muito orgulhosa de ti. Beijo da avó.